data-filename="retriever" style="width: 100%;">Mais uma notícia de feminicídio alarmou a sociedade: o caso de um delegado da polícia civil do Paraná que matou a esposa, também policial, e a enteada, no último dia 5. A primeira reação que temos diante de uma notícia dessas é nos penalizarmos diante de vidas tão precocemente ceifadas, em circunstâncias absurdas de violência doméstica. Mas a problemática é muito mais profunda do que se pode imaginar a priori. A principal e sobre a qual os meios de comunicação, tampouco as políticas públicas se dedicam, são as consequências extramorte decorrentes das condutas criminosas, especialmente no que se refere ao(s) filho(s) da vítima.
Para quem não se familiarizou com a notícia em epígrafe, explico que o casal possuía uma filha em comum, de 9 anos de idade, que também estava na residência no momento do crime, mas que não foi atingida em sua integridade física. Aliás, faço questão de assim consignar, porque parece óbvio que essa criança foi em muito atingida em sua integridade psíquica. Essa, por sinal, é uma das consequências não trazidas à tona por ocasião de um crime praticado com violência contra a mulher.
Com quem essa criança ficará, uma vez que seu pai matou sua mãe? Que sequelas psíquicas essa criança terá por ter presenciado tão imensurável agressão? Que medidas assistenciais podem e devem ser desenvolvidas em face dessa vítima indireta do crime? Esses são apenas alguns dos questionamentos que exsurgem desse e de inúmeros outros casos de violência doméstica contra a mulher. A primeira impressão que tenho quando tomo conhecimento dos casos concretos e os associo às estatísticas, especialmente as do Estado do Rio Grande do Sul, onde estima-se que o feminicídio cresceu 40% no ano de 2018, em relação ao ano anterior, é de que estamos andando na contramão.
Apesar da existência de uma legislação cunhada com objetivos nobres e com conteúdo potencialmente capaz de estancar as condutas subjugadoras arraigadas na nossa sociedade machista, os resultados efetivos parecem estar distantes dos ideais. Ao que atribuir essa dicotomia? E não conclua que possuo respostas para esse questionamento. Em verdade as tenho buscado incansavelmente, mas a impressão que tenho é que quanto mais estudo, mais elas parecem distantes.
Visualizo uma mudança de postura do Poder Judiciário, do Poder Executivo e de toda a sociedade em relação aos crimes de violência contra a mulher. Constato que nunca, em toda a nossa história de lutas por igualdade de gênero, tivemos tanto alcance e em tantas esferas. Percebo isso tanto nas mudanças de postura da mídia, como na implementação de abrigos para mulheres agredidas e ameaçadas, criação de postos de atendimentos especializados, concessão de benefícios previdenciários etc. E isso me enche de esperanças! Mas quando escuto uma notícia como a ora referenciada, minha confiança se esvai, porque percebo que nem mesmo aquele treinado para vigiar e proteger a sociedade foge do sentimento de posse doentio exercido pelos homens sobre as mulheres.
Mas não me permito ser pessimista. Ainda quero acreditar que estamos no caminho, que estamos mudando paradigmas, que juntos, governo, imprensa e sociedade civil, podemos criar uma nova realidade na questão do respeito à mulher e minimização dos casos de violência de gênero. Que comecemos sem demora, mudando a nossa postura, "metendo a colher", usando as redes sociais a nosso favor e acreditando em um futuro diferente e melhor.